sexta-feira, 26 de junho de 2020

TNDM II - SALINHA ONLINE # 7 - | A Grande Viagem contada por Anna Castagnoli -



“Algum dia, talvez dentro de pouco tempo, construirei um barco muito grande; que possa flutuar como os barcos e voar como os aviões, apesar de ser um barco; que possa circular sobre a terra e por baixo de água como um barco com rodas, como uma nave submarina.” (Anna Castagnoli, in 'A Grande Viagem')

https://vimeo.com/425571269

Proposta de leitura # 6 - Capitão Coco & O Caso das Bananas Desaparecidas - Em português pela Orfeu Mini I 2º ciclo




Geografia # 4 - Como nasce e é batizado um furacão?- 3º ciclo



Este fenómeno forma-se, geralmente, em regiões tropicais do planeta. Os ventos  podem chegar aos 199km por hora, costumam girar no sentido do relógio no hemisfério sul e ao contrário no hemisfério norte. São muito comuns no mar das Caraíbas e nos EUA, chegando a medir de 200 a 400 km de diâmetro.
                                                                                                      In RTP Ensina




Curiosidades # 7 - Creation: Making a Handmade Book - Criação de livros artesanais, na Índia -



quinta-feira, 25 de junho de 2020

A MÚSICA PORTUGUESA A GOSTAR DELA PRÓPRIA # 22


Ana Amélia Dutra (91 anos)

Horta, Faial, Açores

dois temas desconhecidos



Cidadania e Desenvolvimento # 5 - Voltaire e o Tratado sobre a tolerância - 3º ciclo



Voltaire, ou melhor, François-Marie Arouet, nasceu a 21 de novembro de 1694, em Paris. Foi educado pelos jesuítas e teve uma vida de aventuras. Chegou a ser detido na Bastilha, graças a um desentendimento com um nobre, o cavaleiro de Rohan. Viveu em Londres, onde absorveu a cultura inglesa, e colheu influências de Bacon, Locke e Newton.      
                                                                                                                    In RTP Ensina                      


Português # 12 - Pensamentos no Portal da Literatura - Base de dados de pensamentos e citações de diversos pensadores/personalidades I 2º e 3º ciclos




A amizade é como os títulos honoríficos: quanto mais velha, mais preciosa.
                                                         Johann Goethe



O egoísmo não é amor por nós próprios, mas uma desvairada paixão por nós próprios.
                                                             Aristóteles



Curiosidades # 6 - Encontro entre Jaguar e Papa-Formigas Gigante acaba de forma surpreendente -



"Uma cena surpreendente teve lugar num rancho no Brasil, entre um jaguar e um papa-formigas. Enquanto observava este papa-formigas gigante, um fotógrafo apercebeu-se de que um predador se aproximava. Um grande jaguar macho aproximou-se silenciosamente, e parecia pronto a atacar".
                                                                                                                                       In National Geografic

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Português # 11 - Provérbios no Portal da Literatura - milhares de provérbios populares portugueses I 2º e 3º ciclos




Música "Makeup", de Agir, em Língua Gestual Portuguesa.




Geografia # 3 - Riscos e catástrofes naturais: a atmosfera - 3º ciclo




Chuva, seca, frio e calor são elementos climáticos com os quais convivemos diariamente, mas que pontualmente podem assumir força extrema causando situações de desastre difíceis de ultrapassar.

                                                                                                                                          In RTP Ensina


Contador de Histórias # 2 - Rodolfo Castro - "A carta da Senhora Gonçalves?" I 2º ciclo

Rodolfo Castro. O pior contador de histórias do mundo.








Curiosidades # 5 - 14 animais que demonstram uma inteligência impressionante -

Cães Border Collies destacam-se pelas suas capacidades de memória.

Porcos-vietnamistas são altamente sociais.

Kanzi, um chimpanzé-pigmeu de 39 anos, ficou muito conhecido pelas suas capacidades de comunicação.


sexta-feira, 19 de junho de 2020

PINÓQUIO # 36 - Capitulo XXXVI de Carlo Collodi (publicado em 1881 - Itália)

XXXVI

   Enquanto Pinóquio nadava a toda a velocidade para chegar à praia, sentiu que o pai, que estava às suas cavalitas e tinha metade das pernas dentro de água, tremia sem parar, como se o pobre homem tivesse sido atacado pela febre palustre.
   Tremia de frio ou de medo? Sabe-se lá?... Talvez um pouco de cada coisa. Mas Pinóquio, pensando que fosse de medo, disse-lhe para o confortar:
   - Coragem, pai! Daqui a poucos minutos chagaremos a terra e estaremos salvo.
   - Mas onde fica essa bendita praia? – perguntou o velhote cada vez mais preocupado, e semicerrando os olhos como fazem os alfaiates para enfiar a agulha. – Estou para aqui a olhar para todos os lados, e não vejo senão céu e mar.
   - Mas eu também não vejo a praia – disse o boneco. – Para tua informação, eu sou como os gatos: vejo melhor de noite do que de dia.
   Coitado do Pinóquio! Fingia que estava de bom humor, mas na verdade... na verdade começava a desanimar: estava a perder as forças, a respiração tornava-se pesada e arquejante, enfim, já não podia mais, e a praia ainda estava longe.
   Nadou enquanto teve fôlego; depois, voltou-se para Gepeto e disse com a voz entrecortada:
   - Pai... ajuda-me... que eu morro!
   Pai e filho estavam quase a aforgar-se, quando ouviram uma voz de guitarra desafinada que disse:
   - Quem é que morre?
   - Sou eu e o mau pai.
   - Estou a reconhecer esta voz! Tu és o Pinóquio!
   - Exacto. E tu?
   - Eu sou o Atum, o teu companheiro de prisão na barriga do Tubarão.
   - E como conseguiste fugir?
   - Segui o teu exemplo. Tu ensinaste-me o caminho, e depois de tu fugires fugi também.
   - Querido Atum, apareces mesmo a tempo! Peço-te pelo amor que tens aos atunzinhos teus filhos: ajuda-nos, ou estaremos perdidos.
   - Com todo o gosto e do fundo do coração. Agarrem-se os dois à minha cauda e deixem-se levar. Em quatro minutos ponho-os em terra.
   Gepeto e Pinóquio, como podem imaginar, aceitaram logo o convite; mas em vez de se agarrarem à cauda, acharam mais cómodo montarem-se nas costas do Atum.
   - Somos muito pesados? – perguntou Pinóquio.
   - Pesados? Nem por sombras. Parece que levo às costas duas cascas de amêijoa – respondeu o Atum, que tinha um corpo tão grande e robusto que até parecia um vitelo de dois anos.
   Chegados à margem, Pinóquio foi o primeiro a saltar para a terra, para ajudar o pai a fazer o mesmo; depois voltou-se para o Atum, e disse-lhe com voz comovida:
   - Meu amigo, salvaste o meu pai! Por isso, não tenho palavras que cheguem para te agradecer. Permite ao menos que te dê um beijo em sinal de eterna gratidão.
   O Atum pôs o focinho fora de água, e Pinóquio, ajoelhando-se no chão, pousou-lhe na boca um beijo muito afectuoso. O pobre Atum sentiu-se tão comovido com esta manifestação de ternura espontânea e intensa a que não estava habituado, que, com vergonha de o verem chorar como um menino, voltou a meter a cabeça debaixo de água e desapareceu.
   Entretanto amanhecera.
   Então Pinóquio, oferecendo o braço a Gepeto, que mal tinha fôlego para se suster em pé, disse-lhe:
   - Apoia-te no meu braço, querido paizinho, e vamos embora. Vamos andando devagarinho, como as formigas, e quando estivermos cansados paramos um bocado a descansar à beira do caminho.
   - E para onde vamos?
   - À procura de uma casa ou de uma cabana, onde tenham a generosidade de nos dar um bocado de pão e um pouco de palha que nos sirva de cama.
   Ainda não tinham dado cem passos, quando viram sentados na berma da estrada dois figurões muito mal-encarados, que estavam ali a pedir esmola.
   Eram o Gato e a Raposa, mas estavam quase irreconhecíveis. Calculemque o Gato, à força de se fingir cego, acabara por cegar de vez; e a Raposa, envelhecida, tinhosa e paralisada de um lado, já nem sequer tinha cauda. Pois é: aquela refinada gatuna, caída na mais extrema das misérias, um belo dia viu-se forçada a vender a sua linda cauda a um vendedor ambulante, que a comprou para fazer um enxota-moscas.
   - Ó Pinóquio – gritou a Raposa com voz de lamúria -, dá uma esmolinha a estes dois pobres enfermos.
   - Enfermos! – repetiu o Gato.
   - Passem bem, seus inturjões! – respondeu o boneco. – Enganaram-me uma vez, agora já não me voltam a apanhar.
   - Acredita , Pinóquio, que agora somos pobres e desgraçados de verdade!
   - Se são pobres, bem o merecem. Lembrem-se do provérbio que diz: “Dinheiro roubado não é logrado.” Passem bem, seus intrijões!
   - Tem compaixão de nós!
   - De nós!
   - Adeus, ó intrujões! Lembrem-se daquele outro provérbio que diz: “Quem rouba o casaco ao vizinho morre em mangas de camisa.”
   E assim falando, Pinóquio e Gepeto seguiram tranquilamente o seu caminho; até que, andados mais cem passos, viram ao fundo de uma azinhaga, no meio dos campos, uma bela cabana toda de palha com o telhado feiro de tijolo e telhas.
   - Aquela cabana deve ser habitada – disse Pinóquio. – Vamos bater à porta.
   E assim fizeram.
   - Quem é? – disse lá de dentro uma vozinha.
   - Somos um pobre pai e um pobre filho, sem pão e sem tecto – respondeu o boneco.
   - Dêem a volta à chave e abram a porta – disse a mesma vozinha.
   Pinóquio deu a volta à chave e a porta abriu-se. Entraram, olharam para todos os lados, mas não viram ninguém.
   - Mas onde está o dono da cababa? – disse Pinóquio, espantado.
   - Estou aqui em cima!
   Pai e filho olharam ao mesmo tempo para o tecto e viram, em cima de uma viga, o Grilo-Falante.
   - Oh! Meu querido Grilinho – disse Pinóquio, cumprimentando-o com delicadeza.
   - Agora chamas-me querido Grilinho, não é verdade? Mas lembras-te de quando me atiraste o cabo de um martelo para correres comigo de tua casa?
   - Tens razão, Grilinho! Corre também tu comigo... atira-me também o cabo de um martelo; mas tem piedade do meu pobre pai.
   - terei piedade do pai e também do filho; mas fiz-te recordar do mau tratamento que recebi, para te ensinar que neste mundo, sempre que possível, devemos ser amáveis com os outros, se queremos ser tratados com igual cortesia nos tempos de necessidade.
   - Tens razão, Grilinho, tens carradas de razão; e eu nunca esquecerei a lição que me deste. Mas, podes dizer-me como conseguiste comprar esta bela cabana?
   - Esta cabana foi-me oferecida ontem por uma graciosa Cabra, que tinha o pêlo de uma linda cor azul-turquesa.
   - E para onde foi a Cabra? – perguntou Pinóquio cheio de curiosidade.
   - Não sei.
   - E quando volta?
   - Nunca mais volta. Partiu ontem muito angustiada, e quando balia parecia dizer: “Coitado do Pinóquio, nunca mais o vejo; a esta hora o Tubarão já o devorou!”
   - Disse mesmo assim?... Então era ela!... era ela! Era a minha querida Fadazinha!... – gritava Pinóquio, soluçando e chorando copiosamente.
   Depois de muito chorar enxugou os olhos, preparou uma boa caminha de palha e deitou nela o velho Gepeto. Em seguida perguntou ao Grilo-Falante:
   - Diz-me, Grilinho, onde poderei arranjar um copo de leite para o meu pai?
   - A três campos daqui encontras o hortelão Zé Somítico, que tem vacas. Vai a casa dele e arranjas o leite que queres.
   Pinóquio foi a correr a casa do hortelão Zé Somítico, mas ele disse-lhe:
   - Quanto queres de leite?
   - Quero um copo cheio.
   - Um copo de leite custa um cêntinho. E começa já por me dares o cêntimo.
   - Mas eu nem um cêntimo tenho – respondeu Pinóquio, muito triste e desolado.
   - Azar o teu, boneco – respondeu o hortelão. – Se não tens nem um cêntimo, eu não tenho nem um dedal de leite.
   - Paciência! – disse Pinóquio, fazendo mensão de se ir embora.
   - Espera aí! – disse Zé Somítico. – Podemos chegar a acordo os dois. Queres sujeitar-te a fazer girar a nora?
   - O que é a nora?
   - É aquele engenho de madeira que serve para tirar água do poço para regar as hortalíças.
   - Posso tentar.
   - Pois então, tira-me cem alcatruzes de água, e como recompensa ofereço-te um copo de leite.
   - Está bem.
   Zé Somítico levou o boneco até à horta e ensinou-lhe como se fazia a nora andar à roda. Pinóquio começou logo a trabalhar; mas antes de tirar os cem alcatruzes de água já estava a escorrer suor da cabeça aos pés. Uma trabalheira daquelas é que ele nunca tivera.
   - Até agora – disse o hortelão -, este trabalho de fazer girar a nora quem o fazia era o meu burrinho; mas hoje o pobre animal está a morrer.
   - Deixa-me vê-lo? – disse Pinóquio.
   - Com todo o gosto.
   Assim que entrou na cavalariça, Pinóquio viu um lindo burrinho estendido na palha, esgotado pela fome e pelo excesso de trabalho. Depois de o olhar atentamente, disse para si mesmo, muito perturbado:
   “Mas eu conheço este burrinho este burrinho! Esta cara não me é estranha!”
   E, inclinando-se para ele, perguntou-lhe na língua dos burros:
   - Quem és tu?
   Ao ouvir a pergunta, o burrinho abriu os olhos moribundos e respondeu na mesma língua, balbuciando:
   - Sou... o Pa... li... to.
   E em seguida fechou os olhos e expirou.
   - Oh! Coitadinho do palito! – disse Pinóquio a meia-voz; e, apanhando uma mão cheia de palha, enxugou uma lágrima que lhe corria pela cara abaixo.
   - Comoves-te tanto por causa de um burro que não te custou nada? – disse o hortelão – Então o que farei eu, que o comprei com o meu rico dinheirinho?
   - Vou-lhe dizer... ele era meu amigo.
   - Teu amigo?
   - Meu companheiro de escola.
   - O quê – gritou Zé Somítico dando uma grande gargalharda. – O quê? Os teus companheiros de escola eram jumentos?... Imagino que belos estudos deves ter feito!
   O boneco, sentindo-se humilhado com aquelas palavras, nem respondeu; pegou no copo de leite morno e regressou à cabana.
   Daquele dia em diante e durante mais de cinco meses, continuou a levantar-se todos os dias antes de amanhecer para ir fazer girar a nora e assim ganhar aquele copo de leite que tanto bem fazia à saúde delicada do seu pai. E não se contentou com isso: nas horas livres aprendeu aprendeu também a fazer canastras e cestos de junco; e com o dinheiro que assim ganhava fazia face, com muita sensatez, às despesas do dia-a-dia. Entre outras coisas, construiu sozinho uma elegante carrocinha para levar o pai a passear e apanhar ar nos dias bonitos.
   E ao serão exercitava-se a ler e a escrever. Na aldeia vizinha tinha comprado por poucos cêntimos um grande livro a que faltavam o frontispício e o índice, e nele praticava a leitura. Quanto à escrita, usava um pauzinho afiado a servir de caneta; e como não tinha tinteiro nem tinta, molhava-o num franquinho cheio de sumo de amoras e cerejas.
   O que é certo é que com a sua vontade de se desenrascar, de trabalhar e de melhorar de vida, não só fazia com que o pai, sempre adoentado, vivesse desafogadamente, como ainda conseguia pôr de parte quatro euros para comprar um fatinho novo.
   Uma manhã, disse ao pai:
   - Vou ao mercado aqui ao pé de casa comprar um casaquinho, um chapelinho e um par de sapatos. Quando voltar – acrescentou a rir – estarei tão bem vestido que me confundirás com um grande senhor.
   Saiu de casa e começou a correr muito alegre e satisfeito. De repente, ouviu que o chamavam pelo nome e, voltando-se, viu uma linda Caracoleta a sair da sebe.
   - Não me conheces? – disse a Caracoleta.
   - Não estou bem certo...
   - Não te lembras daquela Caracoleta que era a camareira da Fada dos cabelos azuis-turquesa? Não te recordas daquela vez em que desci para te iluminar o caminho e em que tu ficaste em pé enfiado na porta de casa?
   - Sim, lembro-me de tudo – gritou Pinóquio. – Responde-me depressa, Caracoletazinha linda: onde deixas-te a minha boa fada? O que faz ela? Ainda se lembra de mim? Ainda me quer bem? Está muito longe daqui? Posso ir vê-la?
   A todos estas perguntas feitas impetuosamente e sem tomar fôlego, a Caracoleta respondeu com a pachorrice do costume:
   - Querido Pinóquio, a pobre Fada está retida numa cama no hospital.
   - No hospital?
   - Infelizmente. Foi atingida por muitas desgraças e adoeceu gravemente, e não tem com que comprar nem um bocado de pão.
   - A sério? Oh! Que grande desgosto que me deste! Oh! Coitada da minha Fadazinha! Muito pobre Fadazinha!... Se eu tivesse mil euros, corria a levar-lhos... Mas eu só tenho quatro euros... Aqui estão eles: ia precisamente comprar um fato novo. Toma-os, Caracoleta, e vai já levá-los à minha boa Fada.
   -  E o etu fato novo?
   - Quero lá saber do fato novo! Até estes andrajos que trago no corpo eu venderia para poder ajudá-la. Vai, Caracoleta, e despacha-te; e daqui a dois dias volta aqui, que espero poder dar-te mais algum dinheiro. Até aqui trabalhei para sustentar o meu pai, e de hoje em diante trabalharei mais cinco horas para sustentar também a minha querida mãe. Adeus, Caracoleta, e daqui a dois dias estou aqui à tua espera.
   A Caracoleta, contra o seu costume, começou a correr como uma largatixa nos dias escaldantes de Agosto.
   Quando Pinóquio voltou a casa, o pai perguntou-lhe:
   - Então o fato novo?
   - Não consegui encontrar nenhum que me ficasse bem. Paciência!... Compro-o para a outra vez.
   Pinóquio nequela noite, em vez de fazer serão até às dez, fez até depois da meia-noite; e em vez de fazer oito canastras de junco, fez dezasseis.
   Depois foi para a cama e adormeceu. E dormindo, pareceu-lhe ver em sonhos a Fada muito linda e sorridente, que depois de lhe dar um beijo lhe disse assim:
   - Muito bem, Pinóquio! Como recompensa pelo teu bom coração, perdoo-te todas as travessuras que fizeste até hoje. Os meninos que cuida amorosamente dos pais nas suas desgraças e doenças são merecedores de grande louvor e de muito afecto, mesmo que não possam ser considerados modelos de obidiência e de bom comportamento. Ganha juízo para o futuro e serás feliz.
   Neste ponto o sonho terminou, e Pinóquio acordou de olhos arregalados.
   Agora imaginem qual não foi o seu espanto quando, ao acordar, percebeu que já não era um boneco de madeira e que se transformara num rapaz como todos os outros. Olhou à sua volta e, em vez das habituais paredes de palha da cabana, viu um belo quartinho mobilado e decorado com uma simplicidade quase elegante. Saltando da cama, encontrou à sua espera um lindo fato novo, um chapéu novo e um par de botins de pele que lhe assentavam que nem uma luva.
   Assim que se vestiu, meteu naturalmente as mãos nos bolsos, e neles encontrou um pequeno porta-moedas de marfim onde estavam escritas as palavras: “A Fada dos cabelos azul-turquesa restitui ao seu querido Pinóquio os quatro euros, e agradece-lhe muito pelo seu bom coração.” Abriu o porta-moedas e, em vez dos quatro euros, brilhavam lá dentro quatro moedas de outo novinhas em folha.
   Depois foi-se ver ao espelho, e pareceu-lhe que era outro. Já não viu reflectir a imagem habitual do boneco de madeira, mas sim a imagem viva e inteligente de um belo rapazinho de cabelos castanhos e olhos azuis, com um ar de Páscoa alegre e festiva.
   No meio de todas estas surpresas que se sucediam umas às outras, Pinóquio já não sabia se estava mesmo acordado a sonhar de olhos abertos.
   - E onde está o meu pai? – gritou de repente; entrando no quarto ao lado, encontrou o velho Gepeto de perfeita saúde, todo gaiteiro e bem-disposto como noutros tempos, o qual, tendo retomado sem demora a sua profissão de entalahdor em madeira, estava precisamente com folhagens, flores e cabeças de diversos animais.
   - Satisfaz a minha curiosidade, paizinho: como se explica toda esta mudança repentina? – perguntou Pinóquio. Saltando-lhe ao pescoço e cobrindo-o de beijos.
   - Esta mudança repentina na nossa casa é tudo mérito teu – disse Gepeto.
   - Mérito meu, porquê?
   - Porque quando os meninos eram maus e se tornam bons, têm a virtude de fazer com que até no seio das suas famílias tudo adquira um aspecto novo e sorridente.
   - E o velho Pinóquio de madeira, onde se terá escondido?
   - Está além – respondeu Gepeto, apontando para um grande boneco apoiado a uma cabeça virada para um lado, os braços pindurados e as pernas cruzadas e dobradas, que até parecia um milagre segurar-se em pé.
   Pinóquio pôs-se a olhar para ele; e depois de olhar durante algum tempo, disse para si mesmo com enorme satisfação:
   “Que cómico que eu era, quando era boneco! E que contente estou agora por me ter transformado num rapazinho como deve ser!”

"As Aventuras de Pinóquio - História de um Boneco" Ed. Cavalo de Ferroa, 2004  |  Tradução de Margarida Periquito  (escrito de acordo com a antiga ortografia). Se detectarem algum erro ou gralha, agradecemos que nos enviem um mail a alertar.

A MÚSICA PORTUGUESA A GOSTAR DELA PRÓPRIA # 21


Serafim Silva

Santa Cruz da Graciosa, Graciosa, Açores

http://amusicaportuguesaagostardelapropria.org/videos/procissao-2/

LGP - OUTROS SOLTOS # 8 - Tipos e formas de frases e outros temas...



Tipos e formas de frases

Curiosidades # 4 - Vida e obra de Amália Rodrigues -



Amália da Piedade Rebordão Rodrigues, conhecida por Amália Rodrigues, é uma das personagens que constituem a história do Fado e de Portugal no mundo. Nascida a 23 de julho de 1920 em Lisboa, viveu no Fundão dos 14 meses aos seus 6 anos, altura em que se muda para Alcântara e onde permanece até aos 19 anos, vivendo até então maioritariamente com os seus avós.


                                                                                                                 In RTP Ensina




                           

PIMPOLHOS # 37 - " A Ilha" de João Gomes de Abreu | contalá por Elsa Serra


"A Ilha" de João Gomes de Abreu Ilustrado por Yara Kono

contalá por Elsa Serra


LENDA # 38 - S. Bento da porta aberta | Paredes de Coura

Viale Moutinho - Lendas de Portugal | Diário de Notícias - 2003

POEMA # 38 - "A um homem do passado" de Manuel António Pina

Poemário - 2003
Ed. Assírio & Alvim

quinta-feira, 18 de junho de 2020

Contador de Histórias # 1 - Rodolfo Castro - "O que mais te podia pedir?" I 2º ciclo


Rodofo Castro. O pior contador de histórias do mundo.

Ciências da Natureza # 6 - 10 animais estranhos que, provavelmente, desconhecias


Polvo - Dumbo, o polvo voador

O nosso planeta é verdadeiramente fantástico e riquíssimo em animais belíssimos, interessantes, assustadores e até estranhos. Os oceanos estão repletos de criaturas curiosas e intrigantes, mas também os há fora de água. Conheça 10 animais estranhos que habitam o planeta Terra, e que parecem saídos do imaginário de uma criança ou de um filme de terror.
                    In National Geografic
Peixe-Bolha


História # 8 - Travessia aérea do Atlântico Sul - 3º ciclo



"Em 1922 Sacadura Cabral e Gago Coutinho realizaram a primeira travessia área do Atlântico Sul, ligando Lisboa ao Rio de Janeiro. Tão importante quanto o ato foi o facto de terem sido testados aparelhos de navegação que marcaram a história da aviação".
                                                                                                                                           In RTP Ensina



Cidadania Desenvolvimento # 4 - A maior lição do mundo - RTP Ensina I 2º ciclo



Maior Lição do Mundo tem o objectivo de promover a reflexão sobre o desenvolvimento sustentável no mundo. O Comité Português para a UNICEF e a Direção-Geral da Educação acompanham e divulgam este movimento junto das crianças e jovens, cuja participação é fundamental para o futuro desenvolvimento das comunidades.




HISTÓRIA de A a Z # 4 - "Livro com cheiro a chocolate" de Alice Vieira | Iniciativa Educação


HISTÓRIA de A a Z
"Livro com cheiro a chocolate"
de Alice Vieira | Iniciativa Educação

           Livro com Cheiro a Chocolate - Livro - WOOK   Alice Vieira escreve para contar uma história e “se possível fazer ...

«Assim é que é» é uma história sobre a importância das vogais. Faz parte do Livro com Cheiro a Chocolate (Texto Editora) da autoria de Alice Vieira. É a própria autora que conta a história, neste vídeo. Para favorecer a leitura autónoma, a cadência foi pensada para crianças que estão a aprender a ler. A velocidade pode ser alterada nas definições do vídeo (a roda dentada no canto inferior direito).

PINÓQUIO # 35 - Capitulo XXXV de Carlo Collodi (publicado em 1881 - Itália)

XXXV

   Pinóquio, assim que se despediu do seu bom amigo Atum, deu alguns passos às cegas no meio daquela escuridão e começou a caminhar às apalpadelas dentro do corpo do Tubarão, dirigindo-se, passo a passo, para aquela luzinha pequenina que via brilhar lá muito longe.
   E conforme caminhava sentia que os seus pés chafurdavam num carco de água gordurosa e escorregadia, que exalava um cheiro tão forte a peixe frito que até parecia que se estava na Quaresma.
   À medida que ia avançando, o clarão ia-se tornando mais brilhante e distinto; até que, ao fim de muito caminhar, conseguiu lá chegar, e quando lá chegou... o que foi que encontrou? Aposto que não conseguem adivinhar. Encontrou uma mesinha posta, em cima da qual estava uma vela acesa enfiada numa garrafa de vidro verde e, sentado à mesa, um velhinho com o cabelo todo branco como se fosse de neve ou de chantilly, que estava entretido a petiscar uns peixinhos vivos, mas mesmo tão vivos que por vezes até lhe fugiam da boca enquanto ele os mastigava.
   Ao vê-lo, o pobre Pinóquio teve uma alegria tão grande e tão inesperada, que pouco faltou para entrar em delírio. Queria rir, queria chorar, queria dizer um monte de coisas; e em vez disso só conseguia emitir sons confusos e gaguejar palavras incompletas e sem sentido. Por fim conseguiu dar um grito de alegria e, abrindo os braços e lançando-se ao pescoço do velhote, começou a gritar:
   - Oh! Querido paizinho! Finalmente encontrei-te! Agora nunca mais te deixo, nunca mais, nunca mais!
   - Quer dizer que os meus olhos me falam verdade? – retorquiu o velhote, esfregando os olhos. – Então és mesmo o meu querido Pinóquio?
   - Sim, sim, sou eu, sou eu mesmo! E tu já me perdoaste, não é verdade? Oh! Querido paizinho, como és bondoso!... e pensar que eu, pelo contrário... Oh!, mas se soubesses quantas desgraças me caíram em cima e quantas coisas me correram mal! Imagina que no dia em que tu, meu pobre paizinho, vendeste o casaco para me comprar a cartilha para eu ir à escola, eu fugi para ir ver os fantoches, e o dono dos fantoches queria pôr-me no lume para lhe acabar de assar o carneiro, que foi o mesmo que depois me deu cinco moedas de ouro para eu te levar, mas eu encontrei a Raposa e o Gato que me levaram à estalagem do Lagostim Encarnado, onde eles comeram que nem lobos, e tendo partido sozinho de noite encontrei os assassinos que se puseram a correr atrás de mim, e eu a fugir e eles sempre atrás, e eu a fugir até que eles me enforcaram num ramo do Carvalho Grande, onde a linda Menina dos cabelos azul-turquesa me mandou buscar num coche, e os médicos, depois de me observarem, disseram logo: “Se não está morto, é sinal que continua vivo”, e então deixei escapulir uma mentira e o nariz começou a crescer-me e já não passava pela porta do quarto, motivo por que fui com a Raposa e com o Gato enterrar as quatro moedas de ouro, pois tinha gasto uma na estalagem, e o Papagaio pôs-se a rir, e em vez de duas mil moedas já não encontrei nenhuma, a qual o Juiz, quando soube que eu tinha sido roubado, mandou-me logo meter na cadeia para dar uma satisfação aos ladrões, quando me vinha embora de lá vi um belo cacho de uvas num campo, e fiquei preso na armadilha, e o lavrador com toda a razão pôs-me uma coleira de cão para eu ficar de guarda à capoeira, mas reconheceu a minha inocência e deixou-me ir embora, e a Serpente, com a cauda a deitar fumo, começou-se a rir e rebentou-lhe uma veia no peito, e o Pombo ao ver-me chorar disse-me: “Vi o teu pai a fazer um barquinho para ir à tua procura”, e eu disse-lhe: “Oh!, se eu também tivesse asas!”, e ele disse-me: “Queres ir ter com o teu pai?”, e eu disse-lhe: “Quem me dera! Mas quem é que leva?”, e ele disse-me: “Monta-te nas minhas costas”, e foi assim que voámos toda a noite, e depois de manhã todos od pescadores que olhavam para o mar me disseram: “Está ali um pobre homem num barquinho quase a afogar-se”, e eu de longe reconheci-te logo, porque mo dizia o coração, e fiz-te sinal para voltares para a praia.
   - Também eu te reconheci – disse Gepeto -, e queria voltar para a praia; mas como? O mar estava revolto, e um vagalhão virou-me o barco. Então, um Tubarão horrível que estava ali perto, assim que me viu na água correu para mim e, deitando a língua para fora, apanhou-me imediatamente e engoliu-me como se eu fosse um feijão.
   - E há quanto tempo que estás aqui fechado? – perguntou Pinóquio.
   - Desde aquele dia; deve haver uns dois anos. Dois ano, querido Pinóquio, que me têm parecido dois séculos.
   - E como é que te tens sustentado? E onde encontraste a vela? E quem te deu os fósforos para acender?
   - Já te conto tudo. Devo dizer-te que a mesma tempestade que virou o meu barquinho fez afundar também um navio mercante. Os marinheiros salvaram-se todos mas o navio foi ao fundo, e o mesmo Tubarão, que naquele dia estava com um excelente apetite, depois de me engolir a mim engoliu também o navio.
   - O quê? Engoliu-o todo duma vez? – perguntou Pinóquio, admirado.
   - Todo duma vez. E só cuspiu o mastro principal, porque lhe ficara entalado nos dentes como se fosse uma espinha. Para minha grande sorte, aquele navio vinha carregado de carne enlatada, de biscoitos, que é pão torrado que dura muito, de garrafas de vinho, de passas de uva, de queijo, de café, de açúcar, de velas de estearina e de caixas de fósforos. Com todas estas bençãos do céu consegui viver durante dois anos; mas hoje estou nos últimos restos: na despensa já não há nada, e esta vela que aqui vês acesa é a íltima que me resta.
   - E depois?...
   - E depois, meu querido, ficamos os dois no escuro.
   - Se assim é, paizinho – disse Pinóquio -, não há tempo a perder. Temos de pensar já em fugir.
   - Em fugir? Mas como?
   - Saindo pela boca do Tubarão e lançando-nos ao mar a nado.
   - Falas muito bem, mas eu, querido Pinóquio, não sei nadar.
   - E isso que importa?... Pões-te às minhas cavalitas e eu, que sou bom nadador, levo-te são e salvo até à praia.
   - Ilusões, mau rapaz! – replicou Gepeto, abanando a cabeça e sorrindo tristemente. – Achas possível que um boneco como tu, que não mede mais de um metro de altura, possa ter tanta força que seja capaz de nadar levando-me às cavalitas?
   - Experimenta e verás! De qualquer maneira, se estiver escrito no céu que vamos morrer, ao menos temos a consolação de morrer abraçados.
   E sem mais palavras, Pinóquio pegou na vela e, indo à frente para iluminar o caminho, disse ao pai:
   - Vem atrás de mim e não tenhas medo.
   E assim caminharam um bom bocado, atravessando todo o corpo e todo o estômago do Tubarão. Mas quando chegaram ao ponto onde começava a grande goela do monstro, pensaram bem em parar para dar uma olhadela e esperar pelo momento mais oportuno para a fuga.
   Agora devo dizer-vos que o Tubarão, por ser muito velho e sofrer de asma e de palpitações do coração, era obrigado a dormir de boca aberta; por isso Pinóquio, assomando-se onde começava a goela e olhando para cima, pôde ver do lado de fora daquela enorme boca escancarada um bom pedaço de céu estrelado e um luar maravilhoso.
   - Este é mesmo o momento de fugir – sussurou, voltando-se para o pai. – O Tubarão dorme como uma pedra, o mar está calmo, e vê-se como se fosse de dia. Vá, paizinho, vem atrás de mim e daqui a pouco estaremos salvos.
   Dito e feito. Subiram pela goela do monstro marinho e, quando chegaram àquela boca enorme, começaram a caminhar em bicos dos pés por cima da língua: uma língua tão larga e comprida, que até parecia a alameda de um jardim. E já estavam preparados para dar o grande salto e para se lançarem ao mar a nado, quando no último instante o Tubarão espirrou, e ao espirrar deu um solavanco tão grande que Pinóquio e Gepeto foram projectados para trás e atirados novamente para o fundo do estômago do monstro.
   Com o grande choque da queda a vela apagou-se, e pai e filho ficaram às escuras.
   - E agora?... – perguntou Pinóquio, muito sério.
   - Ora, rapaz, agora é que estamos perdidos!
   - Perdido porquê? Dá-me a mão, paizinho, e tem cuidado para não escorregares.
   - Par onde me levas?
   - Temos de tentar outra vez a fuga. Vem comigo e não tenhas medo.
   Dito isto, Pinóquio deu a mão ao pai e, caminhando em bicos de pés, voltaram a subir pela goela do monstro, depois atravessaram a língua toda e saltaram por cima das três fileiras de dentes. Mas antes de darem o grande salto, o boneco disse ao pai:
   - Põe-te às minhas cavalitas e abraça-te a mim com muita força. E deixa o resto comigo.
   Assi que Gepeto se acomodou muito bem sobre os ombeos do filho, Pinóquio, muito seguro de si, lançou-se à água e começou a nadar. O mar estava sereno como um espelho, a lua brilhava em todo o seu esplendor, e o Tubarão continuava a dormir com um sono tão profundo, que nem um tiro de canhão o teria acordado.

"As Aventuras de Pinóquio - História de um Boneco" Ed. Cavalo de Ferroa, 2004  |  Tradução de Margarida Periquito  (escrito de acordo com a antiga ortografia). Se detectarem algum erro ou gralha, agradecemos que nos enviem um mail a alertar.