sexta-feira, 29 de maio de 2020

MONSTRINHA na RTP 2 | Dia 30 e 31 de maio | 8:00 às 13:00



Monstrinha, o festival de animação para miúdos 
mas que os graúdos também podem assistir celebra 20 anos. 
O melhor da animação da edição de 2020 passa no espaço ZIG ZAG da RTP2, 
este sábado e domingo, dias 30 e 31, entre as 8h00 e as 13h00.


programa - lista de filmes

30 de maio - sábado

31 de maio - domingo


PORTUGUÊS # 4 - "O Cavaleiro da Dinamarca", de Sophia de Mello Bryner Andresen | Educação Literária 7.º Ano | Kahoot - Quiz

Clica no link e diverte-te


TEATRO # 3 - "Os Amores Pós - Coloniais" de André Amálio | Teatro Nacional D. Maria II




"Amores Pós-Coloniais quer saber o que significava amar no espaço colonial e pós-colonial, refletindo sobre o amor enquanto espaço político e utópico. Quer retratar as políticas do amor no espaço colonial e perceber como a violência do colonialismo condicionava as relações amorosas."


                          Criação Andrá Amálio                      

Cocriação/movimento Tereza Havlíčková
com André Amálio, Júlio Mesquita, Laurinda Chiungue, Pedro Salvador, Romi Anauel e Tereza Havlíčková
Criação musical Pedro Salvador e Romi Anauel
Cenografia Pedro Silva e Hugo Migata
Desenho de luz e direção técnica Carlos Arroja
Colaboração Selma Uamusse e Toni Fortuna



HISTÓRIA # 7- "A Peste Negra" | Histórias de Pequenas Coisas, por Sérgio Luís de Carvalho - para o 2C + 3C


Histórias de Pequenas Coisas

HORA DO CONTO - Os 7 Corvos | Aula Síncrona - 4.º Ano C da EB1 Parque Silva Porto (LG)


HORA DO CONTO | Aula Síncrona
4.º Ano C da EB1 Parque Silva Porto
leitura pelo professor bibliotecário

Os Sete Corvos
irmãos Grimm
recontada com LG

PINÓQUIO # 24 - Capitulo XXIV de Carlo Collodi (publicado em 1881 - Itália)

XXIV

Pinóquio chega à ilha das abelhas laborosas e reencontra a Fada.

    Pinóquio, animado pela esperança de chegar a tempo de socorrer o seu pobre pai, nadou durante toda a noite.
   E que noite horrível aquela! Choveu a cântaros, saraivou, trovejou assustadoramente e fez uns relâmpagos tais que até parecia ser dia.
    Ao amanhecer, conseguiu ver a pouca distância uma longa faixa de terra. Era uma ilha no meio do mar.
    Esforçou-se para alcançar a praia, mas em vão. As ondas, sucedendo-se e sobrepondo-se, faziam-no andar de um lado para o outro como se fosse uma folha ou um fio de palha. Por fim, e para sua grande sorte, veio uma onda tão forte e impetuosa que o atirou em peso para a areia da praia.
    A pancada foi tão violenta que, ao bater no chão, lhe estalaram todas as costelas e articulações; mas logo se consolou, dizendo:
     - Mais uma vez escapei de boa!
    Entretanto, pouco a pouco o céu foi srenando, o sol apareceu em todo o seu esplendor e o mar ficou calmo e liso como um espelho.
     Então, Pinóquio estendeu a roupa ao sol para enxugar e pôs-se a olhar para todos os lados, a ver se conseguia descobrir naquela imensa extensão de água um barquinho pequenino com um homenzinho dentro. Mas depois de ter olhado muito bem, não viu mais nada diante de si a não ser céu, mar e algumas velas de navios, mas tão distantes que mais pareciam moscas.
    - Se eu ao menos soubesse como se chama esta ilha! – ia dizendo. – Se eu ao menos soubesse se esta ilha é habitada por gente boa, quer dizer, gente que não tenha o vício de pendurar os miúdos nos ramos das árvores! Mas a quem é que posso perguntar? A quem, se não há aqui ninguém?
    A ideia de que se encontrava completamente só no meio daquela grande terra desabitada provocou-lhe tanta tristeza, que estava quase a começar a chorar; mas de repente viu passar, a pouca distância da margem, um grande peixe que ia tranquilamente á sua vida com a cabeça toda fora de água.
    Como não sabia o nome dele para o chamar, gritou-lhe em voz alta para se fazer ouvir:
    - Ó senhor peixe, permite-me que lhe dê uma palavrinha?
    - Até duas – respondeu o peixe, que era um Golfinho tão simpático como se encontram poucos em todos os mares do mundo.
   - Fazia o favor de me dizer se nesta ilha há povoações onde se possa comer, sem o perigo de sermos comidos?
   - Tenho a certeza que sim – respondeu o Golfinho. – Aliás, encontrarás uma a pouca distância daqui.
    - E qual é o caminho para lá?
   - Segues por esse atalho aí à esquerda e vais sempre na direcção do teu nariz. Não há nada que enganar.
    - Diga-me outra coisa. O senhor que passeia pelo mar todo o dia e toda a noite, não teria por acaso ancontrado um barquinho pequeno com o meu pai lá dentro?
    - E quem é o teu pai?
    - É o melhor pai do mundo, assim como eu sou o filho pior que pode haver.
    - Com o temporal que fez esta noite – respondeu o Golfinho -, o barquito deve-se ter afundado.
    - E o meu pai?
   - A esta hora já deve ter sido engolido pelo terrível Tubarão que desde há alguns dias espalha o extermínio e a desolação nas nossas águas.
    - É muito garnde, esse Tubarão? – perguntou Pinóquio, que já começava a tremer de medo.
    - Se é grande!... – respondeu o Golfinho. – Para que possas fazer uma ideia, só te digo que é maior do que um prédio de cinco andares, e tem uma bocarra tão larga e tão funda que por ela passava à vontade um comboio inteiro com a locomotiva a fumegar.
   - Minha mãe! – gritou Pinóquio, assustado; e vestindo-se à pressa, virou-se para o Golfinho e disse-lhe: - Até à vista, senhor peixe; desculpe o incómodo e muito agradecido pela sua amabilidade.
   Dito isto, meteu-se pelo atalho e começou a andar em passo acelerado: tão acelerado, que auase parecia que corria. E ao menor ruído que ouvia olhava logo para trás, com medo de ser seguido pelo terrível Tubarão do tamanho de um prédio de cinco andares e com um comboio na boca.
   Depois de meia hora de caminho chegou a um pequeno povoado que se chamava Terra das Abelhas Laboriosas. As ruas fervilhavam de pessoas que corriam de um lado para o outro ocupadas com os seus afazeres: todos trabalhavam, todos tinham alguma coisa para fazer. Não se encontrava um ocioso ou um vadio, nem mesmo procurando com uma lanterna.
    - Já percebi – dissde imediatamente o preguiçoso do Pinóquio. – Esta terra não é feita para mim. Eu não nasci para trabalhar.
   Entretanto a fome atormentava-o, poi já havia mais de vinte e quatro horas que não comia nada, nem sequer um prato de ervilhacas.
    O que fazer?
    Só lhe restavam duas maneiras de poder comer alguma coisa: ou pedir que lhe dessem trabalho, ou então pedir a esmola de um cêntimo ou de um naco de pão.
   De pedir esmola tinha vergonha, porque o seu pai sempre lhe dissera que só os velhos e os enfermos têm o direito de pedir esmola. Os verdadeiros pobres deste mundo, merecedores de auxílio e de compaixão, são só aqueles que, devido à idade ou à doença, estão condenados a não poder ganhar o pão com o trabalho das suas mãos. Todos os outros têm a obrigação de trabalhar; e se não trabalharem e passarem fome, pior para eles.
    Naquele ínterim passou pela rua um homem todo suado e ofegante que puxava sozinho, com grande esforço, duas carroças carregadas de carvão.
Pinóquio, achando que ele tinha cara de ser boa pessoa, chegou-se a ele e, baixando os olhos com vergonha, disse-lhe em voz baixa:
      - Tem a bondade de me dar um cêntimo, pois estou a morrer de fome?
     - Não te dou só um cêntimo – respondei o carvoeiro – mas sim quatro, na condição de me ajudares a puxar até casa estas duas carroças de carvão.
    - Essa é boa! – respondeu Pinóquio quase ofendido. – Para sua informação, nunca fui burro de carga: nunca puxei nenhuma carroça!
     - Sorte a tua! – respondeu o carvoeiro. – Pois então, meu rapaz, se estás mesmo a morrer de fome, come duas fatias da tua soberba, e tem cuidado para não apanhares nenhuma indigestão.
   Poucos minutos depois passou pela rua um pedreiro que levava aos ombros um balde de argamassa.
    - Bom homem, terias a bondade de dar um cêntimo a um pobre rapaz que está para aqui a bocejar de fome?
   - De boa vontade. Vem transportar argamassa comigo – respondeu o pedreiro – e em vez de um cêntimo dou-te cinco.
    - Mas a argamassa é pesada – replicou Pinóquio -, e eu não quero cansar-me.
    Se não te queres cansar, então, rapaz, diverte-te a bocejar, e bom proveito te faça.
    Em menos de meia hora passaram mais vinte pessoas e a todos Pinóquio pediu esmola, mas todos lhe responderam:
   - Não tens vergonha? Em vez de andares aí pela rua feito vadio, vai mas é procurar trabalho e aprende a ganhar o pão.
     Por fim passou uma mulherzinha bondosa que levava duas bilhas de água.
    - Não te importas, bondosa mulher, que eu beba um gole de água da tua bilha? – disse Pinóquio, que estava a arder de sede.
     - Bebe à vontade , rapaz – disse a mulherzinha, pousando as duas bilhas no chão.
Depois de ter bebido como uma esponja, Pinóquio resmungou entre dentes, limpando a boca:
     - A sede já eu matei. Assim pudesse matar a fome!
     A boa mulher, ouvindo estas palavras, acrescentou logo:
     - Se me ajudares a levar uma destas bilhas de água até casa, dou-te um bom pedaço de pão.
     Pinóquio olhou para a bilha e não respondeu nem que sim nem que não.
    - E para acompanhar o pão dou-te um belo prato de couve-flor temperada com azeite e vinagre – acrescentou a bondosa mulher.
     Pinóquio deu mais uma olhadela à bilha, e não respondeu nem que sim nem que não.
     - E depois da couve-flor dou-te um bombom com recheio de licor.
    Seduzido por esta última guloseima, Pinóquio não foi capaz de resistir e, ganhando coragem, disse:
     - Paciência! Levo-lhe a bilha até casa.
     A bilha era muito pesada e Pinóquio, não tendo força para a levar nas mãos, resignou-se a levá-la à cabeça.
     Chegados a casa, a boa mulher disse a Pinóquio que se sentasse a uma mesinha já posta, e colocou na sua frente o pão, a couve-flor temperada e o bombom.
     Pinóquio não comeu, devorou. O seu estômago parecia um quarteirão vazio e desabitado há cinco meses.
    Acalmando pouca a pouco as ferroadas violentas da fome, a certa altura levantou a cabeça para agradecer á sua benfeitora; mas ainda não acabara de olhar bem para a cara dela quando soltou um longo ahhh!... de espanto e ficou como que enfeitiçado, de olhos esbugalhados, com o garfo suspenso no ar e a boca cheia de pão e couve-flor.
     - Mas o que vem a ser todo esse espanto? – disse a rir a boa mulher.
    - É que... – respondeu Pinóquio a gaguejar -, é que... é que... te pareces... fazes-me lembrar... sim, sim, sim, a mesma voz... os mesmos olhos... os mesmos cabelos... sim, sim, sim, também tens os cabelos azul-turquesa... como ela!... Ó minha Fadazinha, minha Fadazinha!... diz-me que és tu, que és mesmo tu! Não me faças chorar mais! Se soubesses!... Chorei tanto, sofri tanto!...
    E enquanto assim falava, Pinóquio chorava copiosamente e, ajoelhado no chão, abraçava os joelhos daquela mulher misteriosa.

"As Aventuras de Pinóquio - História de um Boneco" Ed. Cavalo de Ferroa, 2004  |  Tradução de Margarida Periquito  (escrito de acordo com a antiga ortografia)Se detectarem algum erro ou gralha, agradecemos que nos enviem um mail a alertar

PIMPOLHO # 25 - "A montanha de livros mais alta do mundo" de Rocio Bonilla | para os + novos, história contada por Sofia guardadora de histórias e de sonhos


📚"A montanha de livros mais alta do mundo"🌏 
de Rocio Bonilla, publicado pela Jacarandá Editora

por Sofia guardadora de histórias e de sonhos

LENDA # 25 - A Boca do Inferno | Cascais

Viale Moutinho - Lendas de Portugal | Diário de Notícias 2002

POEMA # 25 - "A palidez do dia é levemente dourada" de Ricardo Reis (Fernando Pessoa)

Poemário
Ed. Assírio & Alvim

quinta-feira, 28 de maio de 2020

HISTÓRIA # 8- "O Primeiro Automóvel Português" | Histórias de Pequenas Coisas, por Sérgio Luís de Carvalho - para o 2C + 3C


Histórias de Pequenas Coisas

O PRIMEIRO AUTOMÓVEL PORTUGUÊS



por Sérgio Luís de Carvalho

https://observatorio.almedina.net/index.php/2020/04/29/historia-das-pequenas-coisas-episodio-6/


Museu # 4 - Visita Virtual ao Museu Nacional dos Coches - Lisboa







https://my.matterport.com/show/?m=crADZwGeEXF

EVT - BdBoom # 11 - Como fazer uma Banda Desenhada | Bedateca de Lisboa 2002

EVT - BdBoom # 11
Como fazer uma Banda Desenhada
Bedateca de Lisboa 2002



"Imagine" de John Lennon, versão UNICEF, em Língua Gestual Portuguesa (LGP)


"Imagine" de John Lennon, versão UNICEF, em Língua Gestual Portuguesa (LGP)


FOTOS de TRABALHOS sobre "PINÓQUIO" - realizados por alunos da Turma do 3.º Ano A em 2005

TRABALHOS de ALUNOS 
3.º Ano A da EB1 Parque Silva Porto
em 2005







JARDIM de INFÂNCIA da EB1 / JI PSP # 5 - Trabalhos das crianças | Sala da Educadora Margarida Rainha

JARDIM de INFÂNCIA da EB1 / JI PSP # 5
Trabalhos das crianças
Sala da Educadora Margarida Rainha







LENDA # 24 - As panelas de libras e a cobra | Cartaxo

Viale Moutinho - Lendas de Portugal | Diário de Notícias 2002

PIMPOLHO # 24 - "Um gato na árvore" de Pablo Albo | para os + novos, história contada por Ana Santos e Renata Ramos (BML)




Livro: Um gato na árvore, Pablo Albo, Editora OQO
por Ana Santos e Renata Ramos,
mediadoras de leitura das BLX.

POEMA # 24 - "Há palavras que beijam" de Alexandre O'Neill

Poemário - 2003
Ed. Assírio & Alvim

quarta-feira, 27 de maio de 2020

A MÚSICA PORTUGUESA A GOSTAR DELA PRÓPRIA # 12


Jacinto Violante
Santiago do Cacém, Setúbal, Alto Alentejo


História I Cidadania e Desenvolvimento # 3 - A Sombra do Muro de Berlim - 3º ciclo


Trinta anos depois da queda do Muro de Berlim, ainda existe uma linha que divide as duas Alemanhas. O contraste entre o ocidente capitalista e a antiga República Democrática Alemã (RDA) comunista foi diminuindo nos últimos anos, mas as diferenças persistem.



Proposta de Leitura # 2 - O Tesouro, Manuel António Pina I 2º ciclo I LGP




O Tesouro é uma história de Manuel António Pina narrada ao mesmo tempo, por Carla Galvão, em Português, e Nuno Costa, em Língua Gestual Portuguesa.

"Era uma vez um país que ficou sem o seu maior tesouro. Era tão valioso que as pessoas sentiam a sua falta nas coisas mais simples, como falar à vontade ou ver os filmes, ouvir as músicas e ler os livros que queriam. Andaram anos e anos infelizes, com os olhos cheios de tristeza. Sentiam-se numa prisão e, na verdade, os polícias podiam prender, castigar e até matar. Mas um dia, uma revolução cheia de cravos vermelhos despertou o povo para a liberdade. Esta história, meninas e meninos, aconteceu mesmo e, agora, o precioso tesouro também vos pertence."

Intérprete de Língua Gestual Portuguesa - Balada (com música dos D.A.M.A)

Intérprete de Língua Gestual Portuguesa - Balada (com música dos D.A.M.A)


LÍNGUA GESTUAL PORTUGUESA # 12 - A viagem do Corona de mão em mão - LGP -

A viagem do Corona de mão em mão - LGP

O grupo de Língua Gestual Portuguesa, do Agrupamento de Escolas D.Dinis de Leiria,
apresenta a história "A viagem do Corona de mão em mão, para todas as crianças!
Fiquem em casa e lavem as mãos!

TNDM II - SALINHA ONLINE # 6 - "O compadre Simplório tem os pés tortos e outras histórias" texto de José de Lemos | contada por João Reixa




'O compadre Simplório tem os pés tortos e outras histórias' é uma obra de José de Lemos, publicada em 1959 pelas Edições Ática. Com humor e algum nonsense, José de Lemos conta histórias do bairro e da aldeia, pequenos enganos e costumes tradicionais. 'O compadre Simplório tem os pés tortos' conta-nos a história do distraído Zé Simplório e dos seus pés “trocados”.
O compadre Simplório tem os pés tortos
in O compadre Simplório tem os pés tortos e outras histórias
texto José de Lemos
editora Edições Ática
edição 1959

leitura da história por João Reixa
seleção de textos da Salinha Online Catarina Requeijo e Manuela Pedroso

PINÓQUIO # 23 - Capitulo XXIII de Carlo Collodi (publicado em 1881 - Itália)

XXIII

Pinóquio chora a morte da linda menina dos cabelos azul-turquesa, depois encontra um pombo que o leva até à praia, e ali atira-se à água para ir socorrer o seu pai, Gepeto.

    Assim que Pinóquio deixou de sentir o peso duríssimo e humilhante daquela coleira em redor do pescoço, pôs-se a correr através dos campos e não parou nem um minuto enquanto não chegou à estrada principal, que havia de o levar à casinha da Fada.
    Chegado à estrada principal, olhou para baixo, para a planície que a ladeava, e avistou muito bem a olho nu o bosque onde para sua desgraça encontrara a Raposa e o Gato; viu, por entre as árvores, erguer-se o topo daquele Carvalho Grande onde estivera pendurado pelo pescoço; mas, apesar de olhar para todos os lados, não conseguiu ver a pequena casa da linda Menina dos cabelos azul-turqueza.
    Então teve como que um triste presentimento e, desatando a correr com quanta força tinha nas pernas, chegou em poucos minutos ao prado onde antes se encontrava a casinha branca. Mas a casinha branca já lá não estava. No lugar dela havia agora uma pequena lápide de mármore, na qual se liam em letra de forma estas dolorosas palavras:

AQUI JAZ
A MENINA DOS CABELOS AZUL-TURQUESA
QUE MORREU DE DOR
POR TER SIDO ABANDONADA
PELO SEU IRMÃOZINHO PINÓQUIO

    Como ficou o boneco depois de ter soletrado atabalhoadamente estas palavras, é coisa que deixo à vossa imaginação. Caiu de bruços no chão e, cobrindo de mil beijos aquela pedrs tumelar, desatou a chorar copiosamente. Chorou toda a noite e na manhã seguinte ao romper do dia continuava a chorar, embora os olhos não tivessem já lágrimas para verter; e os seus gritos e lamentos eram tão lancinantes e agudos que toda as colinas em redor repetiam o seu eco. E enquanto chorava, dizia:
    - Ó minha Fadazinha, porque morreste? Porque é que em vez de ti não morri eu que sou tão mau, ao passo que tu eras tão boa?... E o meu pai, onde estará? Ó minha Fadazinha, diz-me que não é verdade que estás morta! Se gostas realmente de mim, se gostas do teu irmãozinho, volta a viver, volta a ficar viva como antes!... Não tens pena de me ver só e abandonado por todos? Se aparecerem os assassinos, penduram-me outra vez no ramo da árvore, e então morrerei para sempre. O que queres tu que eu faça sozinho neste nundo? Agora que te perdi a ti e ao meu pai, quem me dará de comer? Onde irei dormir esta noite? Quem é que me fará um casaquinho novo? Oh, seria melhor, seria cem vezes melhor que eu também morresse! Sim, quero morrer!... Ih! Ih! Ih!...
    E enquanto assim se desesperava, fez o gesto de querer arrancar os cabelos; mas como os seus cabelos eram de madeira, não pôde sequer ter o gosto de lhe enfiar os dedos.
    Entretanto passou pelos ares um grande Pombo que, parando de asas abertas, lhe gritou de uma garnde altura:
   - Diz-me, menino, o que fazer aí em baixo?
   - Não vês? Estou a chorar! Disse Pinóquio levantando a cabeça na direção daquela voz e esfregando os olhos com a manga do casaco.
   - Diz-me – acrescentou o Pombo -, não conheces por acaso, entre os teus companheiros, um boneco com o nome de Pinóquio?
   - Pinóquio?... Disseste Pinóquio? – repetiu o boneco, pondo-se em pé num salto. – Pinóquio sou eu!
   Ao ouvir esta resposta, o Pombo (2) desceu velozmente e veio pousar em terra. Era maior do que um peru.
   - Então, será que conheces Gepeto? – perguntou ao boneco.
   - Se o conheço? É o meu pobre pai! Falou-te de mim? Levas-me para junto dele? Mas ainda é vivo? Responde-me, por caridade: ainda é vivo?
   - Deixei-o na praia há três dias.
   - O que estava lá a fazer?
  - Estava a construir um barquinho para atravessar o oceano. Aquele pobre homem há mais de quatro meses que anda pelo mundo à tua procura, e como não te conseguiu encontrar, agora meteu-se-lhe na cabeça ir procurar nos países distantes do Novo Mundo.
   - Que distância é daqui à praia? – perguntou Pinóquio, com grande ansiedade.
   - Mais de mil quilómetros.
   - Mil quilómetros? Ó meu querido Pombo, que bom que seria se eu tivesse as tuas asas!
   - Se queres vir, eu levo-te.
   - Como?
   - A cavalo nas minhas costas. És muito pesado?
   - Pesado? Pelo contrário! Sou leve como uma pena.
   E sem mais palavras, Pinóquio saltou para as costas do Pombo e, pondo uma perna para um lado e outra para o outro como fazem os cavaleiros, gritou todo contente:
   - Galopa, galopa, cavalinho, que tenho pressa de chegar!
  O Pombo levantou voo e em poucos minutos ganhou tanta altitude que quase tocava as núvens.          Chegado àquela altura formidável, Pinóquio teve curiosidade de olhar lá para baixo; e sentiu tanto medo e tantas vertigens que, para evitar o perigo de cair, enrolou os braços com toda a força em volta do pescoço da sua plumosa montada.
   Voaram durante todo o dia. Ao anoitecer, o Pombo disse:
   - Tenho muita sede.
   - E eu muita fome – acrescentou Pinóquio.
  - Façamos uma paragem de alguns minutos neste pombal, e depois retomamos a viagem para chegarmos à praia amanhã ao romper do dia.
   Entraram num pombal deserto, onde havia apenas uma bacia cheia de água e um cestinho cheio de ervilhacas.
   Pinóquio, em toda a sua vida, nunca pudera suportar ervilhacas; segundo dizia, faziam-lhe náuseas, davam-lhe volta ao estômago; mas naquela noite empantorrou-se bem e, quando pouco faltava para acabar com elas, voltou-se para o Pombo e disse-lhe:
   - Nunca me passou pela cabeça que as ervilhacas fossem tão boas.
   - Temos de nos convencer, mau rapaz – respondeu o Pombo -, de que quando a fome aperta e não há mais nada para comer, até as ervilhacas se tornam um manjar. A fome não tem esquisiteces nem gulosice.
   Depois desta breve refeição feita á pressa, retomaram a viagem sem fazer mais paragens. Na manhã seguinte chegaram à praia.
  O Pombo pousou Pinóquio em terra e, não querendo sequer passar pela maçada de ouvir agradecimentos por ter feito uma boa acção, retomou logo o voo e desapareceu.
    A praia estava cheia de gente que gritava e gesticulava, olhando para o mar.
    - O que foi que aconteceu? – perguntou Pinóquio a uma velha.
   - Aconteceu que um infeliz pai que não sabe do filho decidiu meter-se num barquinho para o ir procurar do outro lado do mar; mas o mar hoje está muito bravo, e o barquinho está quase a afundar-se.
     - Onde está o barquinho?
    - Está lá adiante, na direção do meu dedo – disse a velha, apontando para um pequeno barco que, visto àquela distância, parecia uma casca de noz que tinha dentro um homenzinho minúsculo.
    Pinóquio fixou os olhos naquele ponto, e depois de ter olhado com muita atenção deu um grito agudíssimo:
     - É o meu pai! É o meu pai!
    Entretanto o barquinho, batido pela fúria das ondas, ora desaparecia por entre as vagas ora voltava a aparecer; e Pinóquio, em pé na extremidade de um alto rochedo, não parava de chamar o pai pelo nome e de lhe fazer muitos sinais com as mãos e com o leço, e até com o chapéu que usava na cabeça.
   E pareceu que Gepeto, apesar de estar muito longe da praia, tinha reconhecido o filho, porque também ele tirou o chapéu e acenou e, à força de muitos gestos, deu-lhe a entender que gostava muito de voltar para trás, mas o mar estava tão revolto que o impedia de remar e de se aproximar de terra.
    De repente, veio uma vaga medonha e o barco desapareceu. Esperaram que o barquinho aparecesse outra vez, mas não voltou a ser visto.
    - Pobre homem! – disseram então os pescadores que estavam reunidos na praia; e murmuraram em surdina uma oração, prepararam-se para regressar às suas casas.
    Nisto, ouviram um grito desesperado e, voltando-se para trás, viram um rapazito que, do alto de um rochedo, se atirava ao mar gritando:
     - Vou salvar o meu pai!
    Como era todo feito de madeira, Pinóquio flutuava facilmente e nadava como um peixe. Ora o viam desaparecer debaixo de água arrastado pelo ímpeto das vagas, ora lhe viam reaparecer à superfície uma perna ou um braço, a grande distância da terra. Por fim, perderam-no de vista e nunca mais o viram.
    - Pobre rapaz! – disseram então os pescadores que estavam reunidos na praia, e mumurando em surdina uma oração, regressaram às suas casas.

(2) Pombo é, em italiano, Colombo. Daí a associação feita, algumas linhas abaixo, com o Novo Mundo – a América do Norte, descoberta por Cristóvão Colombo. (N do T)

"As Aventuras de Pinóquio - História de um Boneco" Ed. Cavalo de Ferroa, 2004  |  Tradução de Margarida Periquito  (escrito de acordo com a antiga ortografia)Se detectarem algum erro ou gralha, agradecemos que nos enviem um mail a alertar